Eu sei que dói, sei que é real.

Mas vai ficar tudo bem.

Ela vai te presentear com as dores, vertigem, enjôo.

Com sono e a insônia.

Mas vai ficar tudo bem?

Você vai vencer os flashbacks. 

Não olha para a menina com medo da aula de educação física.

Não olha para a que anda olhando para o chão porque ver seu reflexo é insuportável.

Não olha para a que negou e cancelou todas as saídas e passeios porque ver outras pessoas, mesmo que conhecidas e amadas, é difícil.

Não olha para a que tosse descontroladamente todas as vezes que fala em público e se sente péssima por isso.

Vai ficar tudo bem.

Tá tudo bem não vencer todos os dias.

Você tem os próximos para tentar de novo.

As vezes eu acordo sorrindo porque sonhei contigo. E aquele sonho foi tão real que parece mais uma recordação, e as vezes a recordação se parece com um sonho. Acho que já perdi a noção do que foi real e do que a minha mente criou sobre você. A verdade é que, eu nem mesmo sei mais quem é você. Parece que foi ontem quando as coisas começaram a andar, ainda me lembro das borboletas criando asas e voando nervosas só em eu cogitar te tocar. Lembro que você me olhou gentil, fantasiando uma versão sensível, que não só compreendia meus medos e minhas limitações, mas estaria lá para me ver enfrentar cada um. Eu mostrei todos os meus demônios a você, e você disse que me mostrou os seus, mas nem mesmo isso eu posso garantir que era verdadeiro. Eu tentei, imensamente, justificar todas as falhas. Eu dei um porquê para cada merda sua. Mas chegou um momento que nem eu sabia o que eu precisava justificar. Foram tantas versões de você que eu conheci em tão pouco tempo. Não gostei de nenhuma delas. Eu perdi quem você era. E ainda me pegando voltando no tempo tentando ver outra saída. Se tinha outra coisa a fazer. Alguma versão sua perdida, talvez? Alguma verdadeira que eu conseguisse agarrar, acreditar e salvar. A verdade sempre vem a tona: Eu nunca vou saber quem é você. Eu inventei você.